Antes de começarmos Nossa entrevista queríamos parabenizar todos os leitores , chegamos nesses quase 8 anos de Blog a Milésima Postagem! Obrigado a todos!
1- Quem é a Cleide?
Cleide é uma pessoa
batalhadora, que hoje busca viver o máximo e aproveitar bastante os momentos como
se fossem o último, hoje curto mais a família, os amigos, sou lutadora,
sonhadora, que já passou por vários perrengues nessa vida. Passei e ainda passo,
por bullying, vários preconceitos, mas encaro hoje com mais força e com um
sorrisão no rosto.
Busco sempre fazer pelo
certo e viver com ousadia, creio que tenha várias missões na vida, mas a
principal é passar através da música todo meu sentimento ao ouvinte. Hoje eu só
quero viver e aproveitar o tempo que é curto demais!
2-O que é o Amapá?
O Amapá é situado aqui no
topo do mapa, terras nortistas, no extremo norte do Brasil, aqui passa a linha
imaginária do equador temos o privilégio de poder pisar em dois hemisférios ao
mesmo tempo no monumento do Marco Zero do Equador, temos mata virgem, fazemos
fronteira com Pará, Guianna Francesa e Suriname, vários hectares de áreas
indígenas e um dos estados brasileiros que mais possui áreas protegidas. O
maior parque nacional do país (Montanhas
do Tumucumaque) também é uma herança do Ap, temos culinária típicas deliciosas,
musicalidade ancestral dos negros, que é o marabaixo cultura do estado, temos cantores
e compositores na linha MPA (Música popular amapaense) como, Patrícia Bastos,
Amadeu Cavalcante, Zé Miguel, Osmar Júnior, Finéias, porém temos os cantores do
"anonimato amapaense" , músicos excelentes com pouca visibilidade do
povo, Jorge Poca, João Ataíde,(rappers) Tia Zefa, tia Chiquinha(ladrão de
marabaixo), ou pra vocês cantores de cantigas, entre outros artistas locais.
Temos umas das maravilhas do
Brasil, a Fortaleza de São José de Macapá, que se localiza numa ponta de terra
à margem esquerda do rio Amazonas o maior do mundo, porém não podemos deixar de
frisar também que o Amapá é uma das cidades que mais mata com arma branca, que
também tem os políticos mais corruptos do BR aonde os vermes são os que ganham mais
no país todo. Desigualdade social aqui pera em alta, áreas de vulnerabilidade
social totalmente esquecida pelos governantes, nossas favelas aqui são em áreas
de ponte, em ressacas, áreas alagadas sem mínima condição de moradia, falta
tudo não tem saneamento básico, não tem incentivo a cultura, educação, saúde tá
um caos e em meios as maravilhas aqui na terra tucujú também tem suas
desigualdades sociais.
3- Você é envolvida com
quais gêneros musicais
profissionalmente? E quais gosta de escutar?
Aos meus 14 anos percebi que
queria muito trabalhar com música, foi aonde me interessei em aprender a tocar
um instrumento e arrisquei alguns versos de composição, Profissionalmente na
música trabalho com o Rap desde 2004, no grupo Relatos de Rua, junto com Jomar
meu parceiro e irmão, mais quando se
trata de música sempre busco um pouco mais, estou em um grupo de samba a pouco
tempo tocando e cantando, sou diretora primeira diretora de bateria mulher de
uma escola de samba da região norte, a agremiação G.E.S. Maracatu da Favela.
Quando se trata de música não imponho limites, escuto de tudo, aprendi que pra
ser uma boa musicista tenho que ouvir de tudo, talvez seja mais fácil dizer o
que eu não escuto que no caso é funk proibido, esses lixos sonoros são fazem
parte da minha playlist.
4- A quanto tempo você é
compositora?
Na minha adolescência eu comecei
a escrever bastante, eu tinha um caderno que escrevia as minhas revoltas, meu
dia-dia, e algumas poesias, um dia me inspirei em escrever uma música, nessa
época eu ouvia muito rock, sonhava em montar uma banda de rock, pop rock, algo
nessa linha e comecei a arriscar umas composições, quando eu comecei a aprender
a tocar violão foi que fui melhorando as composições, as letras, as estrofes
foram ficando melhor juntamente com as melodias que eu desenvolvia até sair a
minha primeira composição chamada “Eternos namorados” uma música na linha MPA (música
popular amapaense) daí por diante foram surgindo outras músicas.
Já no rap por ter uma
facilidade de já compor, foi mais fácil, pois aquela revolta que eu tinha na
adolescência eu pude passar de uma forma mais explicita, mais real, com mais
veracidade nas palavras, confesso que me senti aliviada por poder compartilhar
o que eu sentia. Então saiu a primeira letra que foi “ Pai”
Umas das faixas do segundo
CD do Relatos de Rua, um desabafo que eu sentia pela forma que eu vivia com meu
pai. Naquela época de revolta que passei na minha vida.
5- conte-nos um pouco do
processo de criação da música “saudades”..
Quando perdi minha vó foi um
impacto muito grande na minha vida, ela era meu esteio, minha fortaleza. Passei
uma parte da minha vida achando que eu era a dona da razão, não valorizei como
deveria o bem mais precioso da nossa vida que é a família, e na verdade nunca
passou pela minha cabeça que eu a perderia de uma hora pra outra, na verdade as
vezes me passava pela cabeça e eu pensava como ficaria se isso acontecesse
então logo resistia e deixava quieto. Ela sabia o quanto eu a amava, tinha
minha forma de demonstrar, mesmo que fosse de uma forma mais bruta, mais
resistente, mais ela sabia.
Eu não tive a oportunidade
de dizer nos últimos momentos naquele hospital o quanto eu a amo, e que eu
faria tudo por ela novamente, faria tudo pra ter somente uma chance de dizer o
quão grande é o meu amor por ela. No dia do enterro, eu prometi ao lado do
caixão que eu faria uma musica pra ela. Que em casa verso eu iria dizer o que
sentia, que eu iria agradecer, me desculpar, e falar dos nossos momentos
juntas. Foi difícil começar casa linha, porque a cada palavra eu chorava
demais. Tive que deixar um tempo parada a letra porque não conseguir escrever
muita coisa, algo faltava, e depois de um tempo sem entender o porquê da perda
foi que a letra foi saindo, tive que perde-la pra entender que o bem mais
precioso é a família, o amor entre nós daí por diante as coisa mudaram em casa,
hoje vivemos melhor, mais unidos.
Queria que a música fosse
passada de forma real e intensa, que alguém quando as pessoas escutassem, pudessem
se identificar com alguma estrofe, com algo da música, eu queria que as pessoas
sentissem a música, que as tocassem sentimentalmente.
Planejei um beat triste mais
uma pegada forte e mais atual, então desenvolvi junto com dos beatmaker do relatos
de rua , o Garrote da Sanatorium Music,
a produção do beat fizemos juntos, e a mixagem e masterização ficou por
conta do garrote.
Fiquei super feliz com a
produção musical, ficou do jeitinho que eu imaginei e tenho plena certeza que
minha vó onde estiver a ouviu pois eu fiz de todo meu coração e amor a ela.
6- Quais os planos pra 2017?
Bom musicalmente é terminar
o 3° CD do relatos de rua junto com meu mano Jomar e Dj Rogério, lançar os
clips do relatos que estamos terminando de fazer esses projetos, me aperfeiçoar
musicalmente estudando um pouco mais, fazer alguns projetos solos (Feats) com
outros Rappers do Brasil em especial da Região Norte e Nordeste, tenho um outro
projeto de um EP mais na linha MPB com canções autorais que quero ver se lanço
esse ano de 2017, e continuar na música passando e fazendo o meu melhor.
7- Voltando a falar sobre
seu single (ou faixa avulsa), conte nos como se sentiu depois de gravar uma
música com o conteúdo tão sentimental como a faixa “saudades” e se você pensa
em lançar algum clipe dela.
“Saudades” é uma música
muito importante na minha vida, fala um pouco da minha convivência com a minha
vó, mulher que me criou, me deu educação e sempre se esforçou pra dar o melhor
para mim”. Eu quis passar no som o sentimento verdadeiro, e eu queria que fosse
uma música que realmente tocasse a quem escutasse, que fosse íntima com
qualquer pessoa que passou pela mesma situação que eu, ter perdido alguém muito
especial na vida, e que não teve uma oportunidade de despedida, e que não
aproveitou devidamente os verdadeiros momentos, por questão de “tempo”. O tempo
está sempre nos fazendo grandes perdas em nossas vidas, ele é o grande vilão e
obstáculo para nossos questionamentos de “não termos tempo pra isso”, “pra
aquilo’, “perdi o tempo”, “não deu tempo”, “não cheguei a tempo”, “tô sem
tempo” “meu tempo é curto” entra outras objeções que já faço de tudo pra que não
aconteça mais”.
Cada linha, cada estrofe,
foi feita com lágrimas, com sentimento e a produção também teria que ter e
passar esse sentimento. Tudo foi produzido com carinho, notas, melodia,
instrumentos, bateria tudo...e cada dia de produção junto com meu parceiro
Garrote da SAnatorium Rap Music foi super produtivo.
Quando o som ficou pronto já
masterizado e mixado foi de arrepiar, confesso que caíram algumas lágrimas e
nesse momento eu senti que minha vó amou o som, e que eu fiz a coisa certa. O
som foi super elogiado, e ele quebrou barreiras mais uma vez, porque ele pode
atingir um público diferente da nossa realidade, pessoas na faixa de 35 à 50
anos adoraram a música e sabemos que esse público é meio difícil de conquistar
com o estilo do rap. Fiquei super feliz pro produzir mais um som de qualidade,
a ideia do clipe já está em andamento e após o lançamento de “Clamor” e “Lado
B” que são projetos de vídeos já em termino iremos lançar o clipe de Saudades.
Cara, foi aí que começou
todo esse bang, e sabemos que existem grandes rappers nesse trecho, quem não
pensa em ser um grande rapper famoso no Brasil? Conosco não é diferente, porém
hoje acredito que essa expansão deve e um dia vai acontecer, se não for comigo,
ou o relatos, vai ser um rapper da região norte, eu torço por todos, cada um
faz seu corre, temos rappers feras aqui no norte, nós do norte conhecemos
muitos rappers do sul, porém pergunte a eles se eles pesquisam sobre nós? E isso
faz com que o nortista já se distancie um pouco das grandes estrelas sulistas e
prefiram apostar em nosso povo, de um tempo pra cá eu tenho escutado mais rap
norte e nordeste do que os cara do sul, claro, acompanho as noticias, os
lançamentos mais a minha playlist mudou, eu quero conhecer os nossos, aqueles
que lutam pelos mesmos objetivos que eu, que meu grupo. Nós do norte temos uma
realidade totalmente diferente dos sulistas, nós do norte ainda queremos chamar
atenção do ouvinte falando o verdadeiro rap, mostrando a exclusão social, o
abandono das periferias, pontes, baixadas, quebradas, falar de politicagem,
falar da Amazônia, falar do cotidiano
vivido na vida do nortista, acho que ainda batemos forte nessa tecla de falar
de questões de áreas de vulnerabilidade social, claro, cada faz seu estilo mais
a maioria ainda quer mostrar esse cotidiano. O rapper nortista vive a sua vida,
não vivemos em” picuinhas” como a grande maioria anda fazendo no sul do país,
aqui é tudo mais dificultoso, pois se no sul o rap ainda é visto como algo
marginalizado, você imagina agora aqui no norte, rsrsrs se não for nós
acreditarmos em nós mesmo tá difícil de achar quem acredite, aqui o corre é
“Nois pur Nois” fazer beat, gravar, produzir, hoje com a internet está mais fácil
você aprender essas atividades e executar sozinho ou montar uma banca que cada
um faça um pouco, mais imagina ai a 10 anos atrás, internet era algo pra rico,
computador só os playboys que tinha nas casas, aí pra conseguir um beat era
igual achar ouro mano, mó dificuldade, se tinha que se apadrinhar com alguém
que já manjava das paradas e pedir beat, “pow mano arruma um beat ai pra nós” e
você ainda tinha que produzia algo em cima daquela “base”, rsrsrs não era fácil
não. Hoje temos mais liberdade pra produção com programas especializados nessa
linha, e quem já manja um pouco de música tem mais facilidade pra fazer os
corres. Mais não pensa você que tá fácil tem que ter real titio, porque ninguém
dá nada de graça pra ninguém. Hoje temos duas gravadoras fodas no ramo do rap aqui
no Amapá que é a “nois pur nois rec do parceiro Ramom , conhecido como RJ, que
é um percussor do rap amapaense, tomando conta
do blog repeiros do norte, site do Amapá Rap, tem um canal no youtube
que apresenta os rappers da região norte, falando as tendências musicais
nortista e realizando um trabalho de expansão do rap nortista, e a Sanatorium
Rap Music do meu parceiro Garrote, que é também MC do Grupo Função Real, hoje
dois grandes beatmakers que saíram do convencional e investiram em fazer RAP.
Ainda somos taxados pelos
sulistas como fracos, como índios, como caipiras, esse preconceito com o rap
norte nordeste existe e não podemos deixar de citar que eles ainda pensam que
são as grandes estrelas do rap nacional, questionam nosso flow, questionam
nossa musicalidade, eles não entendem que talvez a essência do rap ainda prevaleça aqui no eixo norte
nordeste e nós vemos como forma diferente, ousamos em colocar instrumentos
musicais indígenas, palavreados nortistas, algo da nossa cultura, pois no rap
você tem a capacidade de expandir e falar de qualquer coisa, isso soa pra eles
como algo inútil , nos nortistas somos muitos regionalizados pela questão de
diferença de classe social de região, queremos passar um pouco do que acontece
pelo norte.
Temos músicos fodas aqui no
norte, temos Igor Muniz, Vitor Xamã do Qua$imorto, Máfia nortista, Função Real,
Augusto MC, De Deus, Pelé MC, Jander Manauara, relatos de Rua Nata VL Diamante
FK entre outros, mas tenho plena certeza
que logo , logo estará ai um rapper do norte estourado no Brasil, em breve. E
deixo aqui pra você que quer conhecer um pouco do que rola na cena nortista o
canal no youtube repeiros do norte, lá você pode acompanhar o que tá rolando.
9- Percebemos que você no
seu estilo de som que você soube mesclar entre técnicas de escrita e flow, mas
falando separadamente, o que a Cleide gosta mais de explorar na hora de
escrita? Contar uma boa história claramente ou abusar do flow?
Hoje não vejo o rap somente
como rap, hoje vejo como música, e na música não se tem limites, uma boa
historia não tem que ser somente contada através de um rap, tem que ser sentida
na música, nas notas, na harmonia, passar um flow para aquela música, cada
música exige um flow uma pegada diferente, cada música tem que ser passada de
forma que aquela letra fala, para que seja realmente sentida e envolva , que
você viaje com ela. Então é tudo um conjunto, uma união dos dois, não é porque
é um rap que você não tem que investir em musicalidade, pelo contrário, aí que
tem que ser investido mesmo, aquele rap compassado e falado é coisa do passado
mano, rsrsrs tem que acompanhar a
evolução que acontece assim ó, em um piscar de dedos, e se você não ousar ou
fizer algo diferente, você fica na mesmice, pra alcançar bons resultados que
que ousar e fazer algo diferente, é um risco mais pode dar certo. Tem que
estudar mais música, aprender um instrumento saca ?, ter mais musicalidade faz
você expandir as ideias e ousar, investir mesmo, quando a gente se considera
músico, qualquer investimento no ramo é conhecimento e conhecimento ninguém
tira da gente, só engrandece, te faz abusar mais na música e quebrar as
barreiras do limite.
10- Deixe a todos que
acompanha a emblema um recado.
Vivam com intensidade, vivam
os momentos, ser rico é ter uma família, é ter uma casa, é ter alguém que te
espere e te abrace , quebrem a barreira do “tempo”, e aproveite o pouco do
tempo que você tem com sua família, seus amigos, seu cachorro, com as pessoas
que você considere que mereçam esse “tempo” porque o “tempo” passa, as pessoas
mudam, a gente vai cansando, e se tem alguma coisa que não volta é ele o
“tempo”. Sorria mais, ame mais, ajude mais, mais empatia, mais humanidade, mais
gestos solidários . E aos músicos, façam músicas com amor, não importa o
estilo, faça sempre o seu melhor sem pensar em retorno, a música vai aonde você
menos espera e o Rap tem um poder muito grande de mudança, de resgate, de
incentivo, o mic é uma arma na nossa mão e temos que saber usa-la de forma
corretamente para atingir o receptor. Façam música com seriedade e ela lhe
trará resultados impressionantes, tantos sentimentais como também lhe dará um
retorno financeiro. Deixo também mais uma vez o blog e canal do youtube
Repeiros do Norte, como direção para quem queira conhecer o cenário do rap
nortista, e quem quiser conhecer um pouco no meu trabalho não somente solo mais
também com o grupo do qual faço parte que é o Relatos de Rua, o endereço da
nossa página no facebook pra está conferindo as novidade no grupo, www.facebook.com/relatosderua
força sempre e sucesso a todos na caminhada.
Agradecimentos: Agradecer a
Deus por tudo , a Selo Emblema por acreditar no Rap e apoiar o
Rap Feminino, pela ousadia de não se limitar somente em um eixo do Brasil e
procurar rappers compromissadas(os) com o que fazem, e poder transmitir essas
matérias a nível nacional, mostrando que existem uma diversidade de Rap
Feminino em todo Brasil.
Parabéns a toda equipe da Emblema,
obrigada pela paciência. Forte abraço a todos que disponibilizaram um pouquinho
do seu “tempo” para lerem e a matéria.
Cleide RDR cabocla Tucuju!
Contatos:
Ouça no Youtube a música
“saudades”
Página do facebook:
Twitter & Instagram
@relatosderua
Canal Youtube:
Relatos de rua
Baixe Nosso Som no:
Gratidão por tudo!!!
ResponderExcluirÉ de suma importância para o Rap Amapaense essa matéria linda.
#RapAmapaense
Parabéns Querida, representa muito a cultura, é um incentivo muito grande pra mim, máximo respeito ao Relato e seus integrantes, parabéns mesmo, é nós na caminhada.
ResponderExcluirPs: Que iniciativa linda, meus parabéns ao blog, ainda viram muitas coisas, paz.
Obrigado parceiro! conheça nossos projetos aqui no EMblema
ResponderExcluirtemos entrevistas diversas! qualquer coisa so mandar um e mail ! souemblema@hotmail.com